sexta-feira, 24 de julho de 2009

FUNDAMENTALISMO ATEU:HOMEM-BOMBA(2)(opinião)




Convém agora examinarmos um fato profundamente revelador do fundamentalismo ateu,qual seja o momento quando se deparam com expoentes da ciência que rejeitam o ateísmo. Não vou tratar do caso de Isaac Newton,considerado o maior expoente da ciência em todos os tempos,e que escreveu mais sobre a Bíblia do que sobre física,mas analisarei dois nomes mais modernos,a saber Albert Einstein e Stephen Hawking. Se você deseja ver um ateu irado,diga-lhe que ambos não eram ateus.(E se proteja!). Vejamos os fatos.

Albert Einstein juntamente com Newton formam a dupla que revolucionou o pensamento científico. O que dizer de Eistein então no que tange ao debate sobre o ateísmo? A tarefa aqui é um pouco mais difícil pois não vemos no formulador da teoria da relatividade uma explicitude com relação á esta questão. Einstein tinha em Spinoza seu pensador preferido e muito em função disso,muitos pensam errôneamente que ele era panteísta. Outra razão para esta suposição inadequada é que o próprio Einstein deixava sempre claro a sua descrença em um Deus antropomórfico o qual pudesse interferir na vida dos mortais e ouvir suas orações,acreditava ele que grande parte das mazelas promovidas pelas religiões tinha neste conceito sua causa primeira.


A pergunta “você acredita em Deus” sempre foi uma rotina na vida do físico,principalmente após ele ter proferido a famosa frase “Deus não joga dados”,quando criticava o caráter probabilístico da mecânica quântica. Os ateus quando defrontados com esta declaração por ser ela propícia ao Criador Inteligente,são rápidos em afirmar que a mesma não pode ser tirada do contexto,e reafirmam que como Spinoza Eistein era panteísta. Qual era de fato então a posição do cientista diante da pergunta sobre a existência de Deus?
Embora Einstein sempre tenha se pronunciado de maneira sutil sobre o assunto,mantendo sempre um certo mistério,não nos faltam em suas obras editadas,discursos,cartas e artigos em que ele se manifesta sobre o tema.A maioria veio a partir de 1930,motivados principalmente por vários mal entendidos do lado dos teólogos e de outras pessoas que estimavam ser ele ateu. A maior parte deste material está incluído em “ The World as I See it”(1949) , “Out of my later days”(1950) e “Ideas and Opinions”( 1954). Quando questionado por um rabino em 1929,sobre se acreditava em Deus,ele respondeu que acreditava no deus de Spinoza,o qual revela a si mesmo nas leis harmônicas do mundo,não em um deus que se preocupa com o destino e os feitos da humanidade.Ora,fica claro que sendo Spinoza panteísta ele(Spinoza) não acreditava em “um” deus mas em várias coisas como Deus. Einstein,que ao que parece não gostava de ser questionado a respeito,deixava claro aqui a sua não concordância com o deus do modelo judaico-cristão com o qual estava mais familiarizado devido á influência em sua vida pregressa de judeu; mas ele não tomou o panteísmo de Spinoza,como deixou claro,certa vez quando questionado para definir Deus: “ Eu não sou um ateu,e não acho que possa chamar a mim mesmo de panteísta”. Esta é uma resposta clara e definida sobre a questão,não há o que se falar em contexto diante de uma definição própria da sua posição diante da religião. Max Jammer que estudou bastante o tema conclui: “ Einstein concordava com Spinoza que aquele que conhece a Natureza conhece Deus,mas não porque a Natureza é Deus,mas porque a busca pela ciência no estudo da Natureza leva á religião.” O próprio Einstein ainda diria: “ A ciência sem a religião é aleijada,a religião sem a ciência é cega”(8).Para deixar mais claro esta questão vejamos o que diz Walter Isaacson,autor da mais recente biografia de Einstein,” Einstein,sua vida seu universo”,o autor cita uma célebre entrevista dada pelo físico a George Sylvester Viereck,o qual faz perguntas objetivas a Einstein,como por exemplo: “ O senhor aceita a existência histórica de Jesus?” Vejamos a resposta: “ Sem dúvida! Quem pode ler os evangelhos sem sentir a presença real de Jesus? Sua personalidade pulsa em cada palavra. Não há nenhum mito que esteja imbuído de tanta vida”.O entrevistador prossegue: “ O senhor acredita em Deus? Resposta: “ Não sou ateu. O problema ai envolvido é demasiado vasto para nossas mentes limitadas. Estamos na mesma situação de uma criancinha que entra numa biblioteca repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito esses livros.Ela não sabe de que maneira,nem compreende os idiomas em que foram escritos. A criança tem uma forte suspeita de que há uma ordem misteriosa na organização dos livros,mas não sabe qual é essa ordem. É essa,parece-me,a atitude do ser humano,mesmo do mais inteligente,em relação a Deus. Vemos um universo maravilhosamente organizado e que obedece a certas leis;mas compreendemos essas leis muito vagamente.”. Isaacson segue analisando a atitude de Einstein com relação á crença em Deus: “ A vida toda Einstein foi coerente ao rebater a acusação de ser ateu”: “Há pessoas que dizem que não existe Deus”,disse ele a um amigo.” Mas o que me deixa mais zangado é que elas citam meu nome para apoiar essas idéias... O que me separa da maioria dos ateus é um sentimento de total humildade com os segredos inatingíveis da harmonia do cosmos.”.Embora,como já disse, Einstein fosse bastante sutil nesta questão,ele deixou claras pistas sobre seu deísmo(*) e sua aceitação de uma criação inteligente,como por exemplo: “ Estou satisfeito com o mistério da eternidade da vida e com a consciência e o vislumbre da maravilhosa estrutura do mundo existente,juntamente com um devotado esforço para compreender uma parte,ainda que minúscula,da Razão que manifesta a si mesma na natureza”
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Estou certo que o leitor imparcial e atento na busca pela verdade,perceberá claramente o entendimento de Einstein de uma criação com propósito,a qual ele estava certo de que não jogava dados para realizar seus feitos.No pensamento citado acima ele mostra claramente uma Razão que se manifesta na natureza,não várias razões na natureza. Fica claro portanto que de forma alguma o ateísmo pode reivindicar para seus quadros de cientistas ateus o gênio de cabelos desgrenhados. Einstein foi reconhecidamente misterioso sobre o assunto,mas se formos olhar para as pistas deixadas, o ateísmo não é uma opção.

Para completar menciono também um cientista que dá sinais claros de enxergar a criação inteligente no universo, Stephen Hawking,considerado um dos maiores cientistas da atualidade,o qual muitas vezes é apontado como ateu,mas demonstra indícios fortes de deismo.Em seu famoso livro”Uma breve história do tempo”,o físico não vê nenhuma dificuldade em crer na existência de Deus.Ao contrário ele considera muito interessante a hipótese teológica,qual seja,a idéia de que entender Deus poderia ser o alvo máximo da física,fazendo a ressalva de que para chegar lá o caminho é a ciência e não o misticismo ou a metafísica.Diante da pergunta se Deus teve um papel antes do big bang,Hawking admite que sim dizendo: “ acho que só Ele pode responder porque o universo existe.”(algum ateu-praticante que diga que a frase foi tirada do contexto e que teria sido proferida em tom de ironia,sugiro que leia Hawking) Em duas de suas principais obras “ O universo numa casca de noz” e “Uma breve história do tempo”,não se vê nenhuma posição clara de ateísmo,mas sim uma forte indicação de deísmo. Como os ateus convictos como Dawkins adoram se declarar,sem uma declaração explícita de Hawking sobre o assunto, no mínimo,restam dúvidas.

Outra estratégia fundamentalista lamentável dos ateus contra os cientistas que crêm no Deus Bíblico ou mesmo contra os deístas ,é a tentativa por parte destes de enquadrar como não científicas todas as posições dos especialistas que se opõe ao ateísmo por serem os primeiros ligados a alguma profissão de fé e os últimos simpatizantes á idéia de um Criador . Por mais embasadas que sejam á luz da ciência seus trabalhos sobre o tema,respaldadas por seus impecáveis currículos acadêmicos,não podem eles segundo os ateus serem considerados cientistas porque acreditam em Deus. Ao invés de contestarem os artigos e livros destes cientistas ,com evidências melhores do que as parcas a que se apegam,acham mais fácil tentar por meio do fundamentalismo dogmático ateísta,denegrir a capacidade de seus opositores. Tamanha xenofobia intelectual não é encontrada nem na idade média.


(*) Deísmo:O deísmo é uma postura filosófica e NÃO religiosa que admite a existência de um Deus criador, mas rejeita a idéia de revelação. É uma doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada.


N.A: Todas as referências das citações aqui elencadas e reproduzidas estão á disposição do leitor,e podem ser solicitadas através do email do blog.

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