quarta-feira, 29 de julho de 2009

ATÈ QUE PONTO PODE UM CIENTISTA ATEU,QUESTIONAR A EXISTÊNCIA DE DEUS,TENDO COMO BASE A VISÃO MATERIALISTA?(opinião)



Em seu mais recente livro "Deus,um delírio" o biólogo e apóstolo do materialismo Richard Dawkins faz uma crítica ás religiões em geral e por conseqüência á crença em um Deus criador,uma vez que o mesmo em nenhum momento demonstra qualquer sinal de ter consciência de que são coisas diferentes.Com um humor característico Dawkins ao mesmo tempo que espera que qualquer leitor religioso ao finalizar o livro,passe a integrar as fileiras do ateísmo,declara ser tal desejo otimismo e presunção,uma vez que segundo ele “fiéis radicais são imunes a qualquer argumentação”. Seu raciocínio é simples: Uma vez que após ler seus argumentos contra a religião,caso um leitor não mude de opinião,a razão é que o mesmo é um radical fundamentalista,não restando nenhuma outra possibilidade,como por exemplo que haja um leitor fora do modelo religioso, que simplesmente escolha optar em acreditar em Deus. Isso ele deixa claro quando diz: “ Mas acredito que há muita gente de mente aberta por aí...Espíritos livres como esses devem precisar só de um pequeno incentivo para se libertar do vício da religião. No mínimo,espero que ninguém que tenha lido este livro ainda possa dizer: “ Eu não sabia que podia” (Dawkins,Richard,Deus um delírio,Cia das Letras,2006,p.29,30). Acho oportuno incluir aqui esta opinião pelo fato de julgar necessário uma resposta ao delírio de Dawkins e seus colegas ateus,já que o biólogo ao escrever um livro cujo tema central é a religião,está tratando de um assunto que evidentemente foge do aspecto científico. A bem da verdade,se ele pode,por que não eu?

Proveitosamente em Deus, um delírio, o autor adequadamente repreende todas as heranças antigas e atuais que foram legadas pelo fundamentalismo religioso(analisaremos este ponto em postagem posterior),quais sejam: Guerras,preconceitos,perseguições,assassinatos,corrupções,e quaisquer outras atitudes nefastas que o leitor se lembrar,foram uma constante e ainda se apresentam de forma contumaz no mundo em que vivemos. Justiça seja feita,quando tais situações são tratadas por Dawkins como um legado nocivo que a religião deixou para a humanidade,minha atitude é de total concordância com a visão por ele apresentada. No entanto,conforme mencionei a pouco é importante deixar claro que o professor Richard interpreta o sistema religioso criado pelo homem como um sinônimo da atitude de um indivíduo que crê na existência de Deus,cometendo com isso um erro enorme de interpretação. É verdade que de certa forma não podemos culpá-lo pela limitação que o cerca ao tentar analisar um tema sobre o qual faltam-lhe vários subsídios de conhecimento. Portando uma patente de General entre os ateus atuais,munido portanto unicamente da visão materialista para questionar a crença no sobrenatural,confunde inevitavelmente, com sua ignorância do que seja a fé, Deus com a religião.

Analisar o fundamentalismo religioso e suas mazelas é uma tarefa relativamente fácil,haja visto a quantidade de material histórico á nossa disposição, e talvez fosse muito melhor realizada por um historiador do que por um biólogo. Mas quando a questão é uma análise da metafísica da fé, a simples avaliação dos resultados e influências históricas da interpretação da religião pelo homem e a atitude deste ao conceituar de forma errônea a informação recebida; limita completamente a obtenção da verdade. Em virtude disso, ao escrever sobre a crença em Deus,confundindo-a com a religião,a incapacidade de Dawkins para tratar o tema,fica evidente. Para que o leitor entenda melhor o que quero dizer,seria mais ou menos o mesmo que um analfabeto tentar entender um tratado sobre física quântica escrito em latim. Primeiro,ele precisaria aprender a ler,em seguida a fazê-lo em latim,e finalmente conhecer a física quântica. O fato de Richard Dawkins ser um ateu “praticante”,conhecer a religião como um fenômeno histórico e ser um biólogo competente, não o coloca a frente de tantos filósofos que com muito mais autoridade têm debatido a metafísica do sobrenatural e chegado a conclusões muito diversas das suas. Richard Dawkins é um biólogo ateu,a sua opinião sobre o entendimento e o conhecimento da existência de Deus,é a de um leigo.

A seguir mostrarei ao leitor a inconsistência da interpretação do autor de Deus,um delírio,ao confundir a crença em Deus com a religião. Para tal irei analisar apenas a questão da “religião” judaico-cristã,uma das mais abordadas no livro de Dawkins,as quais juntamente com o islamismo defendem a existência de um único Criador. Uma das críticas mais incisivas que Richard Dawkins faz em seu livro para questionar o Deus do Velho Testamento,é o fato de que este Deus escolheu um povo e por conta disso o protegeu em detrimento de outras nações,sendo que por vezes guerras e matanças foram perpetradas com o Seu aval. O autor faz um verdadeiro estardalhaço em cima da história relativa ao estabelecimento do reino de Israel nos tempos bíblicos. Aqui se vê a primeira demonstração de ignorância sobre o significado das escrituras e sua revelação quanto á ação de Deus nas diferentes eras. Conforme já dito,Dawkins baseou sua recente obra na informação adquirida sobre a história da interpretação da religião pelo homem,mas revelou-se um completo leigo na realidade da hermenêutica do Velho Testamento. A fim de entendermos claramente esta questão, devemos estudá-la de acordo com a sua verdade dispensacional. Segundo a teologia bíblica Deus tem uma maneira especial de tratar as pessoas numa determinada época ou dispensação. Se lermos a Bíblia sem considerar a dispensação, descobriremos muitas contradições difíceis de serem explicadas. Há que se reconhecer que existe uma progressão da verdade nos escritos da Bíblia. O que foi considerado perfeito no inicio do Antigo Testamento vem a ser imperfeito sob a verdade manifestada no tempo do Novo Testamento. A razão disso não são os diferentes conceitos do homem a respeito de Deus, mas sim os vários graus da revelação de Deus aos homens. Visto que Deus trata com o homem de acordo com a dispensação, Ele Se revela a ele paulatinamente, de acordo com Sua exigência para com ele naquela dispensação em particular. Muitos reconhecem apenas duas divisões na Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento. Leitores cuidadosos entretanto, encontram na Bíblia uma síntese de sete dispensações. Tal divisão não é arbitrária; pelo contrário, é muito natural para os que lêem a Escritura com cuidado e estudo. Se ignorarmos estas distinções, vamos esperar que as pessoas de uma dispensação guardem a lei da dispensação de outra.

Não precisamos nos limitar á Bíblia para entendermos que eras diferentes se regem por dispensações diferentes, na própria cultura romana,em especial suas leis,das quais descendem a maioria dos códigos de leis ocidentais,podemos ver instrumentos que eram o normal na época e hoje seriam impensáveis,como por exemplo o direito de um pai romano sobre a vida dos filhos,podendo vendê-los ou até mesmo tirar-lhes a vida: “ Era o pai que poderia dispor de toda a propriedade pertencente á família,e o próprio filho podia ser considerado uma propriedade sua,porque os seus braços e o seu trabalho eram fonte de receita. O pai podia pois á sua escolha guardar para si este instrumento de trabalho ou cedê-lo a outro. Cedê-lo era o que se chamava de vender o filho....Pode se julgar por ai como no direito antigo a autoridade paterna era absoluta....este direito de justiça,exercido na casa pelo chefe de família era completo e sem apelação. Podia condenar á morte,como o magistrado fazia na cidade;nenhuma autoridade tinha o direito de modificar suas sentenças... Valério Máximo cita certo Atílio,que mata sua filha culpada por impudicícia,e todo mundo conhece aquele pai que matou o filho por cumplicidade com Catilina.”(Fustel de Coulanges,A Cidade Antiga,Martin Claret,2002,p.99,100,101)

Deveríamos rejeitar todas as nossas leis ocidentais que se originaram no direito romano,por ter sido este em uma determinada era(dispensação) totalmente abominável para a época em que vivemos? Evidente que não. Vivemos em uma dispensação diferente da vivida á época da Roma antiga,muitas das antigas leis romanas são um absurdo na atualidade,no entanto a cultura de nossas leis tem como origem o direito romano, e o fato de nossos antepassados terem praticado atos que seriam reprováveis hoje não muda a realidade de que tais atos eram aceitos naquela dispensação. Não precisamos ir tão longe no tempo,na idade média por exemplo, a família cumpria a função reprodutiva, a transmissão dos bens e dos nomes, mas isso não significava envolvimento afetivo e não existia idéia de sua responsabilidade na educação. Em tempos mais recentes ainda,mesmo nas culturas libertárias do ocidente,o comum era o pai decidir a vida do filho, seja a profissão ou o casamento. Atitudes estas que foram em geral suprimidas e totalmente modificadas pelo surgimento nesta era de uma dispensação diferente da anterior,o que não elimina a necessidade da humanidade de que aquela época fosse vivida.

Como analisar então o cristianismo que é a “religião” predominante no ocidente e por conseqüência a mais combatida por Dawkins e seus seguidores ateus? O cristianismo é o “Novo Contrato” feito por Deus com aqueles que Nele crêem,substituindo o Velho Testamento pelo Novo Testamento(NT),sendo portanto este último a instrução a ser seguida por estes na dispensação atual. Duvido que Richard Dawkins saiba que a palavra “religião” como observância de preceitos religiosos de uma doutrina,ou de um sistema ou ordem religiosa não aparece uma única vez no NT. Na verdade o termo “religião” não existe no NT. O que se vê nos escritos da assim chamada “Nova Aliança”,é uma mudança completa da dispensação do VT com vistas á realização do propósito de Deus em Seu relacionamento com os crentes do NT. Sejam nos ensinamentos de Jesus ou nos escritos de Paulo,João,etc, não se observam normas ou rituais a serem seguidos,ao contrário o que se observa são orientações de como viver o cristianismo segundo o padrão do NT. Na assim chamada “era da igreja” que se inicia nos Atos dos Apóstolos segue até o Apocalipse de João e perdura nos dias atuais o que se vê sempre que os cristãos se reuniam segundo o princípio do NT é uma busca pelo estudo e compreensão das Escrituras,seja pelo ensinamento dos mestres ou pelo aprendizado mútuo. Pelo fato de estarmos ainda na dispensação da era da igreja tal deveria ser também a atitude dos cristãos atuais. Se o que vemos hoje em diversas “igrejas’ é uma deturpação do objetivo original e do legado do NT , seja na propagação de doutrinas reprováveis como: evangelho da prosperidade,extrapolação e exploração de pretensos dons de cura,culto e verdadeira adoração a líderes oportunistas que se locupletam á custa da ingenuiedade alheia,etc, a responsabilidade de tal erro deve ser imputada á falha do homem em interpretar adequadamente a visão contida na Bíblia e não uma deficiência desta.

Não é meu objetivo nem minha função aqui tratar de aspectos teológicos para defender e explicar o cristianismo; para isso temos teólogos que poderão fazê-lo com muito mais propriedade,por isso me limitarei a apenas esta refutação das colocações de Dawkins em seu livro em que critica a fé em Deus confundindo-a com a religião sendo que todas as demais ali apresentadas qualquer leitor atento e desprovido de preconceitos materialistas poderá perceber que estão eivadas de inconsistências em razão da confusão que o autor faz dos conceitos de fé e religião. Desejo sim através destes poucos comentários chamar a atenção do leitor que o escritor de Deus,um delírio, assumindo sua condição maior de ateu do que de cientista;demonstra sua completa ignorância da mente de Deus ao abordar o aspecto histórico e moral da religião humana como se tal fosse a síntese da crença na existência de Deus. O ateísmo como qualquer corrente de pensamento deve ser uma livre escolha e ninguém deve ser julgado bom ou mau por adotá-lo como filosofia de vida. Da mesma forma ateístas como Richard Dawkins , não deveriam ser limitados por seu pensamento materialista impedindo-os de enxergar o fato de que muitas pessoas com o mesmo nível e até maior de intelectualidade que o seu,longe de serem fundamentalistas radicais, rejeitam o materialismo pelo simples fato de o acharem inconsistente e não por serem “religiosos”. Impossibilitados pela arrogância “científica” de reconhecer a sua limitação ao tratar de assuntos sobre os quais são ignorantes,querem fazer crer que são os donos da verdade. Richard Dawkins é um pensador ateu,portanto seus escritos sobre a metafísica que envolve a existência de Deus são apenas conjecturas de um leigo que pouco pode acrescentar. Pobres cientistas ateus com sua visão limitada da ciência! Bem dizia a médica italiana Maria Montessori: “ Especialmente na ciência precisamos de imaginação,nem tudo nela é matemática ou lógica,mas há algo de beleza e poesia.”

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