domingo, 26 de julho de 2009

AS DUAS NARRATIVAS DA CRIAÇÃO EM GN 1 E 2 ESTÃO EM CONTRADIÇÃO?





Gênesis 1:1 diz:No princípio criou Deus os céus e a terra…”. Depois, em Gênesis 2:4, na falta de um entendimento gramatical correto ,sujeita-se o leitor ao erro de ver uma história diferente da criação. A idéia errada sobre a existência de duas narrativas sobre a Criação é bastante comum. No entanto, é fácil perceber ver que essas passagens descrevem o mesmo evento da Criação. Elas não discordam sobre em qual ordem as coisas foram criadas, portanto, não se contradizem. De acordo com a opinião errada, Gênesis 1 afirma que Deus criou a terra, então a vegetação, então os animais, então o homem; enquanto Gênesis 2 afirma que Deus criou a terra, então o homem, então as plantas, então os animais. Na verdade, enquanto Gênesis 1 descreve os “Seis Dias da Criação” (e um sétimo dia para descanso), Gênesis 2 descreve apenas um dia da semana da Criação,a saber, o sexto dia .Não existe nenhuma contradição,como se comprovará a seguir. Vamos começar nossa investigação dos primeiros cinco versículos da narrativa em Gênesis 2 . Como a passagem de Gênesis 1 na verdade termina com o terceiro versículo do segundo capítulo, vamos começar a narrativa de Gênesis 2 no quarto versículo.
"Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou" (v.4). A palavra hebraica aqui traduzida “gênese” é "toledot". Ela aparece mais doze vezes no livro de Gênesis (5:1, 6:9, 10:1, 32, 11:10, 11:27, 25:12, 13, 19, 36:1, 9 and 37:2) e mais doze vezes no resto do Velho Testamento, sempre em referência à linhagem humana (sem exceção). A palavra “quando” aqui se refere a um período de tempo não especificado. Convém explicar, que os tempos verbais conhecidos no português e em várias outras línguas,não existem no hebraico bíblico,na verdade o hebraico na Bíblia utiliza apenas três formas verbais ,ação completada,ação não completada ainda e imperativo. O verbo em Gn 2:19,por exemplo,aparece na primeira forma e simplesmente que a criação dos animais do campo e aves,ocorreram em algum tempo do passado. O texto não diz nada a respeito de quando tais creaturas foram criadas em relação ao primeiro homem.Da perspectiva gramatical hebraica aqui,eles poderiam ter sido feitos tanto antes como após o homem. A sequência de eventos físicos não é o foco de Gênesis 2. Este foi o propósito e o foco de Gênesis 1,e o escritor claramente posicionou o assunto aqui a parte do que fora anteriormente mencionado. O foco mudou para outras questões.

Uma leitura direta do quarto versículo seria algo assim: “o que segue é a descrição da linhagem humana dos céus e da terra na era quando Deus os criou”. Não especifica o primeiro dia, ou o segundo, ou o oitavo dia. Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo (v. 5). A palavra hebraica traduzida aqui como “campo” é "sadeh". Refere-se a um terreno pequeno ou a um campo cultivado. A palavra “terra” é "erets". Refere-se a um terreno maior, ou ao planeta como um todo. Essa é uma distinção bem importante, distinção essa que vemos não só nessa passagem, mas também no resto do livro de Gênesis (23:13, por exemplo) e por todo o Velho Testamento (Levítico 25:2-3, por exemplo). Enquanto a vegetação de Gênesis 1:11-12 era a de um tipo geral, a vegetação de Gênesis 2:5; 8-9 era de um tipo específico. As “plantas de sadeh” e as “ervas de sadeh” se referem à agricultura, "sadeh" significando um campo cultivado.Note que ainda não existia agricultura porque Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo. Em destaque aqui estão duas das quatro coisas necessárias para a agricultura (o homem para lavrar o solo e chuva, as outras duas coisas sendo solo fértil e luz solar). O texto não apenas se refere especificamente às plantas agrícolas de um campo cultivado; também implica que duas das coisas necessárias à agricultura ainda estavam em falta. Além disso, é óbvio que isso não significa plantas em geral, pois isso seria o mesmo que dizer que não há selvas, florestas ou prados em nenhum lugar porque o homem ainda não tinha lavrado o solo, esse é um pensamento ridículo. Não, a vegetação descrita aqui é a de horticultura. É a administração da agricultura. Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo (v.6). Note que terra e água (em forma de neblina) já existiam a esse ponto. Só não tinha chovido ainda. Gênesis 2 não é uma narrativa da criação da terra e água; isso já tinha acontecido em Gênesis 1. "Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente "(v.7). Aqui, ao apresentar a linhagem humana dos céus e da terra na era quando foram criados, o autor retrocede na sequência cronológica ao sexto dia, quando Deus criou o homem, um lugar apropriado para começar. Podemos encontrar essa ferramenta literária – quer dizer, retroceder na sequência cronológica para entrar em detalhes – em outros lugares da Bíblia também. Considere 1 Reis 6-7. No capítulo seis lemos sobre a construção do tempo de Salomão. A construção é terminada com o último versículo do capítulo, versículo 38: “E, no ano undécimo, no mês de bul, que é o oitavo, se acabou esta casa com todas as suas dependências, tal como devia ser. Levou Salomão sete anos para edificá-la”. Então, no primeiro versículo do próximo capítulo, o autor segue a descrever a construção do templo de Salomão: “Edificou Salomão os seus palácios, levando treze anos para os concluir”. No versículo 12, o autor termina com o palácio. Então, no versículo 13 do capítulo 7, ele volta ao início da construção do templo, com isso voltando em sua sequência de tempo, a qual ele tinha completado no capítulo 6, antes mesmo de descrever a construção do palácio no capítulo 7. Dessa mesma forma, o autor de Gênesis apresenta a criação do homem no sexto dia no primeiro capítulo porque o homem é o ponto principal da história da Criação. Então, no segundo capítulo, o autor retorna ao sexto dia para entrar em mais detalhes sobre a narrativa que começa em 2:4.
Vê-se aqui mais uma vez que as críticas dos ateus -que não raras vezes as fazem indicando que em sua opinião os que aceitam a Bíblia como consistente não estão usando a inteligência- se revelam embasadas em preconceitos e desconhecimento completo da exegese baseada no conhecimento gramatical e do hebraico bíblico. Evidente que tal posição toma muitos menos tempo e se torna muito mais fácil,do que aprender gramática e hebraico. Daí a razão de falarem tanta bobagem!

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